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História do Salvamento Aquático no Mundo

O Salvamento Aquático é relativamente jovem quando o encaramos de forma organizacional. O salvamento de marinheiros náufragos (salvatagem) parece ter ocorrido e desencadeado as primeiras organizações de salvamento aquático. A Associação de Salvamento Aquático “Chinkiang” (“Chinkiang Association for the Saving of Life”) estabelecida na China em 1708 foi a primeira organização deste tipo que se tem conhecimento no mundo (Shanks e cols, 1996). Esta organização desenvolveu torres de salvamento e materiais que pudessem ser utilizados com este propósito.

Nos Países Baixos, em Amsterdã, nascia em 1767 a “Sociedade para Salvar as Pessoas que se Afogam” (“Maatschappij tot Redding van Drenkelingen”), com o principal objetivo de evitar a morte por afogamentos nos numerosos canais abertos existente na cidade. Esta sociedade permanece em existência até hoje e promove uma grande variedade de iniciativas na área de prevenção. Na Inglaterra, o esforço organizado para lidar com o salvamento aquático começou em 1774 e o uso de resgate com barcos foi iniciado somente em 1824 (Shanks e cols, 1996).

Em 1787, a Sociedade Humanitária de Massachusetts (“Massachusetts Humane Society”) (EUA) começou o processo do que viria a se tornar um movimento de salvamento aquático nos Estados Unidos e se tornaria o USLSS (“United States Life-Saving Service”). O USLSS era composto de uma cadeia nacional extensa de torres de salvamento espalhadas pelo litoral provida de pessoal guarda-vidas pelo governo Federal, a qual pertence o crédito de 170 mil vidas salvas. Em 1915, esta organização se juntou ao “Revenue Cutter Service” para se tornar a Guarda Costeira Americana. Foi somente em 1800 que a natação, hoje conhecida como banho de mar, começou a emergir como uma forma extremamente popular de recreação. Foram construídos recantos para o lazer junto às praias, em lugares como “Atlantic City”, e “Cape May”, em Nova Jersey, quando então rapidamente o problema afogamento surgiu. Foram implementados vários métodos de prevenção de afogamento, inclusive o uso de linhas de corda na água – cordas fixas nas quais os banhistas poderiam se agarrar. Quando estas estratégias de prevenção provaram não resultar em sucesso, a polícia foi nomeada a executar o serviço de guarda-vidas na Cidade de “Atlantic City”. Entretanto, o serviço era oneroso aos recursos policial e em nada se adaptava a sua responsabilidade. Foi quando um grande grupo de guarda-vidas foi empregado em 1892. Na cidade de “Cape May”, os esforços de reduzir o número de acidentes por afogamento começaram com o uso de anéis de salvamento pendurados nas casas de banho e o uso de “dories” nas praias que poderiam ser usadas para o salvamento. Em 1865, hotéis começaram a contratar pessoas para atuar em barcos que faziam o salvamento na sua orla. Esta estrutura foi o alicerce para organização dos serviços Municipais de Salvamento Aquático que continua até os dias de hoje.

Por volta de 1900, a Cruz Vermelha Americana e o “YMCA” (Sociedade Cristã de moços) iniciaram esforços juntos para reduzir o número de afogamentos ensinando aos americanos a nadar e salvar uns aos outros quando em perigo na água. Esta campanha de treinamento em natação e salvamento, com um enfoque em piscinas e praias interiores, cresceram e atingiram âmbito nacional e permanecem como um dos pilares da prevenção até os dias de hoje.

Enquanto a necessidade para prevenção de afogamento e serviços de salvamento foi baseada na ocorrência de mortes por afogamento, as técnicas de salvamento ainda eram muito elementares e rudimentares, e se baseavam apenas no uso de um nadador para salvar outro, em um regate tipo homem-a-homem, e freqüentemente sem equipamento. Os equipamentos de salvamento eram muito mais uma adaptação daquele que era utilizado pela USLSS para salvar os marinheiros do mar, do que materiais próprios para o salvamento em praias. Barcos de salvamento, semelhante aos usados pelo USLSS, foram adaptados para uso pelos guarda-vidas que remavam para socorrer os nadadores em dificuldades. Eles permanecem em uso em algumas áreas dos EUA até hoje. O método predominante de salvamento entretanto, era o de nadar até à vítima.

A iniciação de serviços de guarda-vidas foi sempre o resultado de perda de vidas para as águas – afogamento – e, ainda hoje, é este fato que impulsiona a necessidade de aumento dos serviços e maiores recursos para a área de salvamento. Em 1918, 13 pessoas morreram afogadas em um único dia em San Diego, Califórnia, estimulando a criação de um serviço de salvamento que agora conta com 240 guarda-vidas que proveem resposta para emergências litorais 24 horas ao dia, durante todo ano.

Na Austrália, o primeiro “clube” voluntário de salvamento foi fundado em 1906 na localidade de “Bondi”. Antes disso, autoridades haviam proscrito a natação, mas a desobediência civil resultava eventualmente em tornar o banho permitido, criando a necessidade de serviços de salvamento. A organização “Surf Life Saving Austrália”, uma das maiores organizações voluntárias no mundo de hoje, cresceu fora da tradição Australiana de guardar as praias voluntariamente. Hoje, alguns guarda-vidas são pagos, mas a maioria permanece como voluntários.
Um das maiores dificuldades para os guarda-vidas às vezes era a luta exigida para dominar uma vítima em pânico antes do salvamento ser completado. A linha e o carretel (“landline”) foram uma solução encontrada para agilizar o salvamento e reduzir este problema. Um guarda-vidas preso à corda ligado ao carretel na areia, nada até a vítima a aborda segurando-a, e então ambos são puxados rapidamente por outros na areia. Este método tinha a vantagem de um resgate rápido, mas havia algumas desvantagens também. A linha produzia um arrasto que reduzia a velocidade de aproximação a vítima; exigia um mínimo de 3 pessoas envolvidas no resgate; era inadequado em casos de salvamentos múltiplos que aconteciam simultaneamente em diferentes localizações; e, poderia enroscar vítima e guarda-vidas com a corda. Na cidade de “Atlantic City”, Nova Jersey, o uso da corda-carretel foi descontinuado depois que um guarda-vidas foi estrangulado pelo dispositivo. Não obstante, foi extensamente utilizado em outros locais durante décadas e ainda está em uso em algumas áreas.

Como uma alternativa, guarda-vidas criaram um dispositivo com um anel de salvamento na ponta e levantaram a corda à altura dos ombros reduzindo o arrasto na areia. O guarda-vidas nadava com o anel atado ao seu corpo e a linha atada ao anel, ao encontrar a vítima lançava isto à vítima prendendo-a ao anel, e rebocava a vítima para a área seca mais próxima. Isto evitava o contato direto com a vítima, mas como a linha e o carretel, o anel produzia significante arrasto na água.

A invenção do rescue-can como material de salvamento
Em 1897, um Americano com várias habilidades, títulos e feitos na área aquática, o Capitão Henry Sheffield, estava visitando Durban, África do Sul quando projetou o primeiro “rescue-can” chamado na época de “rescue cylinder” (cilindro de salvamento). Este cilindro foi inventado e projetado para um clube de Salvamento Aquático local (Brewster, 1995). Era feito de folha metal e afunilado em ambas as extremidades, e utilizado da mesma forma que o anel de salvamento e também era puxado por uma corda até a areia. A vantagem era que se movia na água com muito mais suavidade e tinha menor arrasto. Uma desvantagem era que o metal pesado e as pontas poderiam causar dano a vítima ou ao guarda-vidas. O rescue-can de metal criado pelo Capitão Sheffield foi reconstruído em alumínio em 1946, permitindo arredondar as pontas, o que melhorou substancialmente o seu uso , mas ainda era pesado e apresentava-se como um risco. Então, o guarda-vidas Bob Burnside , Serviço de Salvamento de Los Angeles, desenvolveu um rescue-can com melhoras significativas, feita de plástico e com alças para as mãos em cada lado. Este material entrou em uso em 1972 nas praias e melhorou enormemente a habilidade dos guarda-vidas para efetuar salvamentos com mais segurança, principalmente em águas abertas. A “bóia” de Burnside continua sendo hoje o material de salvamento de escolha em situações onde um salva-vidas altamente flutuante e hidrodinâmico são necessitados para o resgate de múltiplas vítimas, desde que elas estejam conscientes e possam segurar. Como um símbolo do salvamento aquático moderno, este equipamento pode ter vindo para apagar o antigo salva-vidas redondo tão usado ainda nos dias de hoje.

A invenção do rescue-tube como material de salvamento
Em 1935, no serviço de Salvamento de Santa Mônica, Califórnia, Pete Peterson percebe a necessidade de inventar um dispositivo que pudesse ser amarrado ao redor da vítima para maior segurança na arrebentação, e produziu o primeiro tubo de salvamento (rescue-tube) como um dispositivo inflável. Embora fosse vulnerável ao tempo, ficou bastante popular entre os serviços de guarda-vidas. Em 1964, o material foi aprimorado e manufaturado em borracha de espuma, com uma camada de borracha ao redor. Conhecido por muitos guarda-vidas veteranos como o “tubo de Peterson” ou somente como o “Peterson”, está em uso hoje por todo mundo. O tubo de salvamento (rescue-tube) é uma ferramenta excelente para o salvamento de arrebentação, porque a vítima fica mais segura junto ao guarda-vidas em situações de mar grande e ondas tendo menor risco de perde-la. É um equipamento particularmente interessante em casos de vítimas com distúrbios de consciência ou inconscientes, entretanto é menos útil para o salvamento de múltiplas vítimas, já que seu designer foi direcionado para servir a uma única vítima. De maneira interessante, se tornou um equipamento muito comum para salvamento em piscinas e parques aquáticos. Assim um dispositivo desenvolvido por um guarda-vidas para um ambiente particular veio a se tornar usado em todos os ambientes aquáticos ao redor do mundo. A invenção da nadadeira como material de salvamento – A invenção da nadadeira mudou também o rumo do salvamento aquático. Os guarda-vidas com nadadeiras são muito mais rápidos na aproximação das vítimas e têm o poder de salvar facilmente várias vítimas de uma só vez ou realizar vários salvamentos consecutivos, além de terem muito mais força na luta contra as correntes (correntes de retorno – valas e correntes laterais -valões). As nadadeiras são particularmente mais valiosas em áreas onde a arrebentação quebra perto da praia e onde o afogamento possa ocorrer longe da praia. Para alguns Serviços de guarda-vidas, as nadadeiras são um equipamento obrigatório para os salvamentos e cada guarda-vidas tem um par disponível a qualquer hora.

A Criação da Organização Mundial de Salvamento Aquático – ILS
As atividades de salvamento aquático internacional organizado datam de 1878 quando o primeiro Congresso Mundial foi realizado em Marseille, uma cidade ao sul da França. Desde então tem havido diversas atividades excepcionais na área, realizadas por organizações nacionais. A necessidade de um fórum internacional para trocas de idéias e conhecimentos foi rapidamente reconhecido a partir de então. Isto conduziu primeiramente ao estabelecimento da “Federation Internationale de Sauvetage Aquatique” [FIS] e então a formação da “World Life Saving” (WLS). Ambas organizações foram estabelecidas para promover o salvamento aquático em águas fechadas (rios, piscinas e outros) e abertas (praias) em todo mundo. A Federação Internacional de Salvamento Aquático (FIS) foi fundada em 1910, em “Saint-Ouen”, uma pequena cidade perto de Paris, França. As nações envolvidas na fundação incluíram: Bélgica, Dinamarca, França, Grã Bretanha, Luxemburgo, Suíça e Tunísia. Em 1994, a FIS representava mais de 30 países na área de salvamento aquático. A Organização Mundial de salvamento “WLS” foi fundada em 24 de março de 1971 em “Cronulla, New South Wales”, Austrália. Seu estatuto entrou em vigor em 14 de junho de 1977 com o acordo formal entre as nações da WLS, e era composta dos países: Austrália, Inglaterra, País de Gales, Escócia, Irlanda, Nova Zelândia, África do Sul e os Estados Unidos. Em 1994, a WLS representava mais de 20 países na área de salvamento aquático.

A fundação da Organização Mundial de Salvamento Aquático – Em 24 de Fevereiro de 1993, as organizações FIS e WLS foram fundidos em um único e internacional órgão mundial de salvamento aquático conhecido como “INTERNATIONAL LIFESAVING FEDERATION” – ILS. A ILS foi constituída oficialmente por uma assembleia geral em Cardiff, País de Gales, Reino Unido, em 3 de Setembro de 1994. Desde então, a ILS é a única entidade nesta área em todo mundo aglutinando até os dias de hoje um grande número de países por todo mundo.

O Brasil participou da fundação da ILS, através do Dr David Szpilman, que a convite da ILS, assinou o documento oficial de fundação da ILS nesta oportunidade e se comprometeu em fundar a Sociedade Brasileira de Salvamento aquático – SOBRASA, fundada em 1995.

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Dr David Szpilman

Dr David Szpilman - Sócio Fundador, Ex-Presidente, Ex-Diretor Médico e atual Secretário-Geral da SOBRASA; Ten Cel Médico RR do CBMERJ; Médico do Município do Rio de Janeiro; Membro do Conselho Médico e Prevenção da International Lifesaving Federation - ILS; Membro da Câmara Técnica de Medicina Desportiva do CREMERJ. www.szpilman.com