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Convulsão teria causado o afogamento em piscina no Piauí – como proceder?

O homem identificado como Gilmar Soares dos Reis, 41 anos, morreu na piscina do Balneário Santo Expedito, zona rural do município de São Miguel do Tapuio, a 227 km de Teresina.

De acordo com populares, “Marretinha”, como era conhecida a vítima, teria mergulhado na piscina e não mais retornado à superfície. Banhistas contam que conseguiram retirar Gilmar Soares e ainda tentaram reanimá-lo, sem êxito.

O proprietário do estabelecimento, que não teve a identidade revelada, disse que a vítima foi levada ao Hospital José Furtado de Mendonça, mas já estava sem vida. A causa da morte foi diagnosticada como afogamento, mas segundo médico plantonista, familiares relataram que o mesmo tinha histórico de ataques de convulsão.

EPILEPSIA
A epilepsia é uma condição caracterizada por um ou mais episódios de convulsão em um ano. Seu diagnóstico nem sempre é fácil como parece. A convulsão se inicia por uma descarga “elétrica” de baixa voltagem produzida dentro do cérebro causada por um desequilíbrio estrutural ou iônico que estimula uma parte do cérebro (crise localizada) de forma anormal, podendo se estender a todo ele (crise generalizada). Durante uma crise convulsiva generalizada, ocorre a contração de todos os músculos do corpo e a perda da consciência. Por esta razão neste momento não há respiração. Logo após cessar a crise (menos de 1 minuto usualmente), a respiração volta a ocorrer sem, contudo o cérebro ter recobrado a consciência. Caso a vítima não seja socorrida imediatamente por outra pessoa, esta se afogará e provavelmente morrerá (ver mais detalhes em Afogamento).  

A epilepsia não deve excluir a pessoa de poder assumir responsabilidades no trabalho e nem de praticar esportes no nível de competição. Alguns campeões mundiais, cientistas e artistas famosos eram epilépticos.

Não existem regras rígidas em relação ao portador de epilepsia, como o que pode ou não fazer. Ao contrário, este capítulo visa informar e dar suporte a decisão de como orientar a redução de possíveis acidentes. Estas orientações levam em consideração diferentes circunstancias. Em caso de dúvida procure sempre seu médico para uma correta orientação.

Considerando que a epilepsia afeta uma em cada 2000 pessoas da população (confirmar), e que as atividades aquáticas são cada vez mais freqüentes, é surpreendente haver pouca informação na literatura sobre o assunto, e quase todas somente sobre crianças. Recentemente, Matsuoka, em Osaka (Japão) realizou pesquisa com 30 crianças nadadoras com 7 a 12 anos de idade, portadoras de epilepsia, com capacidade intelectual preservada, sem crises há mais de 1 ano. Foram testados o eletroencéfalograma (registro de ondas cerebrais) antes e depois de nadar os primeiros 100m, e após o segundo 100m. As ondas de ponta epilépticas reduziram de 9.2% em repouso para 4.1% após os primeiros 100 m e para 2.4% após os segundo 100m. Os autores concluíram que a natação não aumenta a possibilidade de crise epiléptica e que a natação não é um fator de risco para crianças de inteligência normal com epilepsia se bem controladas com medicação.  

Notas Importantes sobre Epilepsia
* A supervisão na praia é bem mais difícil do que na piscina.
* A morte por afogamento em crianças com epilepsia é rara, se a criança é mentalmente normal entre as crises e esta sob supervisão médica e aquática adequada.
* Os fatores que mais precipitam a crise são: Álcool, cansaço e poucas horas de sono, omissão de medicação, e Hiperventilação.
* Supervisão por um adulto, definiu-se como olhar a pessoa por todo o tempo que permanecer dentro da água.
* Supervisão máxima por um adulto definiu-se como estar em contato físico (mãos dadas) todo o tempo dentro da água. 

Recomendações em Epilepsia
Para atividades de banho de piscina ou mar
• Pessoa com epilepsia controlada, sem crise há mais de 1 ano, não deverá ir a água sem supervisão.
• Pessoa com epilepsia não controlada ou com crise há menos de 1 ano, não deverá ir a piscina ou praia sem supervisão máxima.
• Ao parar a medicação, epilépticos não devem nadar por 3 meses.
• Na praia, devem dar preferência a se banhar em locais rasos (bancos de areia), com ondas pequenas, e deve manter o contato físico com o supervisor o tempo todo.
• Embora o brilho do sol na água esteja raramente relacionado com o desencadear de uma crise, o fato não pode ser descartado e deve ser evitado.
• O resgate de uma pessoa dentro da água não é uma tarefa tão simples e devem ser ensinados em suas bases aos pais supervisores.
• Os riscos dentro da água para o epiléptico são semelhantes ao de dirigir automóvel, embora com o automóvel exista a ameaça de comprometer a vida de outras pessoas.
• Ao chegar em uma área aquática com segurança, o supervisor da pessoa com epilepsia deverá alertar o guarda-vidas da possibilidade de necessitar de suporte de apoio caso ocorra uma crise, e existindo a possibilidade de resgate. A pessoa jamais deverá ser deixada por conta do guarda-vidas.

Recomendações em Epilepsia
Para esportes aquáticos
• Para a prática de esportes aquáticos na praia, a pessoa deve estar a dois anos sem crise e sem modificações em sua vida diária. • A pessoa deve estar sendo acompanhada por um médico anualmente.
• A prática de esportes na praia é proibida mesmo com supervisão as pessoas com epilepsia não controlada ou com crise há menos de 2 anos.
• Não devem nunca tentar hiperventilar antes de nadar ou mergulhar ou durante exercício dentro da água.
• Não devem fazer mergulho em apnéia ou autônomo. • Quando uma pessoa sem crise convulsiva há mais de dois anos, para de usar as medicações ou esta sob reavaliação medicamentosa, não deve se envolver nas atividades esportivas, ou entrar na água sem supervisão, durante 3 meses ou somente após liberação do médico.
• Todas as recomendações devem ter mais rigor quando se trata de atividade aquática na praia, pela maior dificuldade de supervisão e resgate.

Recomendações em Epilepsia
Recorrência de crise – Quando uma pessoa volta a apresentar um crise convulsiva depois de tê-la controlado após dois anos. As circunstancias ditarão a conduta:
1. Quando a convulsão é o resultado de uma das possibilidades abaixo, um período de 6 meses sem crise deve ser esperado:
* Medicação esquecida ou omitida
* Sono inadequado
* Cansaço físico
* Sem causa óbvia

2. Quando a crise ocorreu após a retirada de medicação para avaliação médica, o retorno as atividades de risco na água só devem ocorrer 30 dias após retorno da medicação e sem apresentar crises.

3. Quando a crise for resultado de algum dos itens abaixo, não realizar atividades de risco na água por um período de dois anos:
* Uso de álcool
* Trauma craniano
* Cirurgia craniana

4. Caso exista alguma modificação de comportamento da pessoa, uso de álcool, uso de medicações de outra natureza, o médico deve ser consultado e nova avaliação feita antes de realizar esportes aquáticos.

MEDIDAS BÁSICAS PARA ATENDER A CRISE EPILEPTICA NA ÁGUA (VEJA Afogamento)
• Se presenciar uma crise, retire imediatamente a vítima da água e faça os primeiros socorros somente na areia.
• Se a crise já tiver passado siga os mesmos procedimentos dos primeiros socorros na água, para uma vítima de afogamento (ver afogamento).
• Não tente introduzir objetos na boca do paciente durante a convulsão.
• Não tente conter a vítima. Protege-a de se machucar. Após a crise
• Se após as convulsões a respiração não for eficaz, hiperestenda o pescoço.
• Ajude à ventilação com o boca-a-boca caso não tenha respiração.
• Se respirando, coloque a vítima na posição lateral de segurança.
• A vítima recupera a consciência em 10 minutos pós-crise. Se isto não ocorrer, o socorrista deve se preparar para ocorrência de um novo episódio convulsivo.
• Permaneça calmo. Uma vez iniciada a crise, você não pode pará-la e geralmente irá durar menos que um minuto.
• A epilepsia não é uma doença transmissível, não tenha medo de ajudar.

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Dr David Szpilman

Dr David Szpilman - Sócio Fundador, Ex-Presidente, Ex-Diretor Médico e atual Secretário-Geral da SOBRASA; Ten Cel Médico RR do CBMERJ; Médico do Município do Rio de Janeiro; Membro do Conselho Médico e Prevenção da International Lifesaving Federation - ILS; Membro da Câmara Técnica de Medicina Desportiva do CREMERJ. www.szpilman.com