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Linha do tempo afogamento em um afogamento real em RIO

CASO CLÍNICO 1 – Pescador atravessa rio para checar sua rede na outra margem.
Pescador de aproximadamente 30 anos, em local desconhecido (parece interior de SP, MG ou Goiás), acompanhado de 3 pessoas que assistem seu sufoco, quando vai checar sua rede de pesca do outro lado do rio.
A cada 92 minutos um Brasileiro morre afogado.
São 16, morrendo todos os dias por afogamento.
12 brasileiros morrem afogados diariamente em rios, lagos e represas.
Em rios e represas, 50% ocorrem nadando, 16% pescando e 20% destes envolvem a redução na avaliação do risco e/ou superestimação dos limites individuais pelo uso de álcool.
Homens de 15 a 29 anos morrem em média 14 vezes mais afogados no Brasil.

Comentários
Desconhecemos muitos fatos desse caso, mas reparem como a água está muito barrenta e o nível do rio está beirando as árvores.
Questiona-se:
Será que havia chovido nos dias anteriores e o volume de água estava diferente do acostumado a ele?
Ou será sua primeira vez nesse local do rio e foi uma má avaliação do risco e/ou de sua competência aquática?
Ou, masculinidade tóxica
O risco do afogamento é muito maior quando desconhecemos/subestimamos o risco e/ou superestimamos nossa competência aquática.
Observe que ele tem competência aquática nível 3, suficiente para nadar em piscinas com baixo risco.
1. O pescador não retirou roupas e sapato, o que aumenta a dificuldade de deslocamento e aumenta o risco. Ele poderia ter levado consigo algum material de flutuação amarrado na cintura e o desfecho seria completamente diferente.
2. Ele nadou transversal ao rio, o que demanda muito mais esforço nessa travessia. O mais fácil é atravessar na diagonal, aproveitando a força da correnteza.
3. Na sua volta, percebe-se que ele não se desloca tão facilmente por conta de uma corrente mais forte e um desvio de curso do rio (pedras ao fundo?) e após não conseguir deslocamento algum ele desiste de retornar.
4. Nesse retorno é possível ouvir sua voz pedindo socorro o que mostra que se tivesse apenas flutuado, esse evento poderia ter um outro desfecho.
5. A avaliação do companheiro que está filmando é correta em dizer que não tem condições de entrar para ajudar.
2 pessoas morrem diariamente tentando ajudar outra dentro da água.
6. Ele afunda poucos minutos, após tentar retornar a 5 m da margem do rio.
Uns dois maiores desafios é convencer que o afogamento ocorre com qualquer pessoa e em qualquer ambiente aquático.
7. Ele pergunta a outra pessoa, o que podemos fazer? E ela não vê nenhuma forma de ajudar. Neste momento a avaliação dos dois é próxima da correta, mas ainda vale a pena chamar o 193, embora as possibilidades de resgate e ressuscitação sem sequelas sejam muito baixas. Sempre tentamos a RCP em casos com menos de 1 hora de submersão principalmente em águas frias.

TUDO PODERIA TER SIDO EVITADO FACILMENTE SE NO LOCAL HOUVESSE UMA SINALIZAÇÃO DO RISCO A MORTE POR AFOGAMENTO E QUE A COMUNIDADE LOCAL RESPEITASSE ESSA INFORMAÇÃO COMO REAL E PROVÁVEL.
8. Finaliza, entrando uma terceira pessoa com barco para regatar um cadáver e aguardar a chegada dos bombeiros solicitado e da perícia para levar o corpo ao IML.
O risco do afogamento é maior em áreas sem sinalização (prevenção ATIVA) e guarda-vidas (prevenção REATIVA).

ANALISE DO CASO USANDO A LINHA DO TEMPO DO AFOGAMENTO
PRÉ-EVENTO
Preparação – comunidade em risco: O município procura conhecer o problema onde ocorre mais o afogamento e alerta a comunidade local e turistas do risco e educação da comunidade em escolas e associações ribeirinhas.
Prevenção ATIVA (pessoa em risco) é feita pela sinalização dos riscos no local e restrição de acesso pelo município.
Prevenção REATIVA (pessoa em risco) pode ser feita por outros presentes no local, advertindo o pescador do risco no local, orientando quais os locais de menor risco, sugerindo levar um flutuador amarrado na cintura, e como deve reagir se tiver alguma dificuldade.
O EVENTO (pessoa em estresse ou desespero)
Quando o pescador percebeu sua dificuldade na ida (estresse) deveria ter reavaliado que não tinha condições de retornar.
Ao cometer o erro de retornar, deveria ter levado um flutuador consigo (por exemplo um pedaço de madeira flutuante).
Ao entrar em estresse novamente deveria ter apenas flutuado mantido suas forças e não lutado contra a correnteza.
Como não houve conhecimento de como realizar seu auto-resgate e não havia ninguém capacitado a realizar o resgate, o evento foi na linha do “sem resgate” e todos esses casos vão a óbito por afogamento.
PÓS-EVENTO
Como não houve o resgate, isso impediu a primeira resposta em primeiros socorros.
Como não foi acionada imediatamente o 193 (resgate + ambulância) essa fase consiste no IML.

Conheça o programa MUNICÍPIO+RESILIENTE em afogamento – Identifique um local de afogamentos e sinalize informando as melhores medidas para evita-lo
Conheça os riscos,
Respeite seus limites,
Saiba ajudar sem morrer!

Veja mais informações em https://sobrasa.org/drowning-timeline-a-new-systematic-model-of-the-drowning-process/

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Dr David Szpilman

Dr David Szpilman - Sócio Fundador, Ex-Presidente, Ex-Diretor Médico e atual Secretário-Geral da SOBRASA; Ten Cel Médico RR do CBMERJ; Médico do Município do Rio de Janeiro; Membro do Conselho Médico e Prevenção da International Lifesaving Federation - ILS; Membro da Câmara Técnica de Medicina Desportiva do CREMERJ. www.szpilman.com