FATOS & MITOS
CASO CLÍNICO
Dr David Szpilman – Diretor Médico da SOBRASA
Fonte: Biólogo Marinho Marcelo Szpilman
Vídeo enviado por: Bruno Pereira Barbosa
Solicitante do tema: Cláudia Regina de Castro Lima
Tubarões são os seres marinhos mais temidos e um dos mais caçados em todo o mundo.
Embora os ataques de tubarões sempre atraiam grande atenção, o Arquivo Internacional de Ataques de Tubarões (ISAF, na sigla em inglês) diz que os ataques são relativamente raros e o número de fatalidades é infinitamente inferior a ataques de cachorros, jacarés ou quedas em buracos na areia da praia. Enquanto 11 pessoas morreram nos Estados Unidos em decorrência de ataques de tubarões, entre 2001 e 2013, 364 foram mortas por cães.
No Brasil, são conhecidas cerca de 80 espécies de 0,15 a 18 metros de comprimento. Destas, apenas 32 já provocaram, comprovadamente, encontros traumáticos com o homem e somente quinze podem atacar de forma não provocada surfistas, banhistas, pescadores, mergulhadores e guarda-vidas. Seu ataque no litoral brasileiro, não é tão grande como muitos acreditam e tem ocorrido quase exclusivamente em Pernambuco.
O maior aparecimento recente deve-se ao fato da documentação por câmeras celulares e a difusão nas redes sociais. Das 80 espécies conhecidas no Brasil, mais de 50% estão com algum grau de ameaça de extinção.
Um relatório do ISAF aponta que o Brasil está em nono lugar na lista de países com mais ataques registrados no mundo. Pernambuco é a região em que eles mais acontecem. Segundo dados do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (CEMIT), houve – desde 1992, quando os casos começaram a ser registrados até 2013, 80 ataques no total com 23 fatais (29%). Deste total, 73% ocorreram em Pernambuco. Em Pernambuco, 50% dos ataques ocorrem na praia de Boa Viagem, onde a taxa de mortalidade é maior (38%) que o restante. Naturalmente, pelo tempo de exposição, os surfistas são os mais atacados. Em sequência até 2013, em ordem de frequência/óbito, temos os estados de SP (12/0), MA(9/3) e RJ (9/2).
O Ataque
Na maior parte dos casos, os tubarões agressores não são vistos pela vítima antes do ataque ou praticamente impossível determinar o momento exato da aproximação de ataque ou, ainda, se o mesmo realmente acontecerá. Apesar de a maioria dos ataques de tubarão acontecer sem nenhuma provocação, outros ocorrem ao arpoar ou mexer com um tubarão, segurar sua cauda, oferecer comida, bloquear sua passagem ou qualquer outra forma de molestá-lo. De acordo com os registros internacionais as pernas são as partes do corpo humano mais atingido (44%) e a mortalidade provocada está situada entre 15 e 20%.
Existem dois tipos básicos de ataque não provocado
Ataque do tipo “Golpear e Correr” – É o tipo mais comum e costuma ocorrer nas zonas de arrebentação com banhistas e surfistas. A vítima raramente consegue ver seu agressor e o tubarão não costuma retornar. As lesões provocadas por este tipo de ataque costumam ser pequenas lacerações, com maior frequência nas pernas, abaixo do joelho, e raramente provocam fatalidades.
Ataques dos tipos “Bater e Morder” e “Furtivo” – Ainda que menos comuns, costumam resultar em grandes lesões que provocam a maioria das fatalidades. Os ataques são repetidos com mordidas múltiplas e prolongadas. Três espécies são, provavelmente, as responsáveis pela grande parcela dos ataques: o tubarão-branco (Carcharodon carcharias), a tintureira (Galeocerdo cuvieri) e o cabeça-chata (Carcharhinus leucas – nosso conhecido no Brasil).
Prevenção do Ataque
Existem numerosas recomendações para prevenir um ataque.
• Nadar, surfar ou mergulhar, sempre que possível, com um companheiro ou em grupo. Muitas vezes a vítima morre por falta de socorro imediato.
• Não entre ou permaneça na água com ferimentos.
• Evite nadar em estuários ou baías onde há descarregamento de lixo ou vazadores de esgoto, fonte de atração para o tubarão.
• Evite nadar ou mergulhar em áreas de pesca comercial ou artesanal. As aves marinhas são um bom indicador destas situações.
• Ao contrário do que se propaga, a presença de golfinhos e botos em uma área não indica a ausência de tubarões. Ambos se alimentam das mesmas presas.
• Se você observar um cardume de peixes se se agrupando e se compactando em grande número, deixe a área imediatamente, pois eles podem já ter “sentido” a presença de tubarão.
• Ao arpoar um peixe, não o leve junto ao seu corpo. Utilize o barco ou uma boia para guardá-lo.
Diante de um possível ataque
• Se um tubarão for avistado, procure deslocar-se com movimentos lentos e coordenados. Mantenha a calma. Possivelmente ele irá apenas reconhecer a área, dando algumas voltas, e depois irá embora.
• se você estiver mergulhando de garrafa, permaneça submerso até atingir o barco. Se não for possível sair da água, mova-se para um terreno defensivo, como um recife de coral ou uma grande pedra.
• havendo investida do tubarão, deve-se tente atingi-lo, com algum objeto, no focinho, olhos ou fendas branquias.
O que fazer ainda dentro da água após um ataque
1.Use sua mão para pressionar o local do sangramento – o sangramento é a maior causa de morte imediata e o controle a hemorragia faz toda diferença.
2.Saia imediatamente da água ou mantenha-se boiando até chegar o socorro – Evite o afogamento secundário, que pode ocorrer pela dificuldade de manter as vias aéreas fora da água.
Importante saber: Dois fatos prejudicam a eficácia destas 2 medidas acima: lesão muito grande para conter a hemorragia somente com a mão e conter a hemorragia e boiar ou nadar ao mesmo tempo.
O que fazer para ajudar a vítima após um ataque e antes da chegada da ambulância
1.Certificar-se de que o tubarão não está mordendo a vítima antes de se aproximar para ajudar. Como a sua segurança vem em primeiro lugar, é recomendado aguardar o profissional chegar para socorrer dentro da água e não se tornar um outro afogado ou vítima do tubarão,
2.Sustentar a vítima com a vias aéreas fora da água evitando o afogamento ou mais aspirações (sempre que possível com ajuda de um flutuador),
3.Realizar a compressão da lesão com a mão (o risco de contaminação com o sangue da vítima existe, mas é baixíssimo),
4.Remover a vítima para área seca mais próxima possível,
•Refaça o controle da hemorragia, colocando a vítima deitada de costas, com a região atingida em posição mais elevada que o coração, comprimindo com sua mão no local de maior sangramento. Use, assim que possível, um saco plástico como luva ou pano para tentar se proteger do sangue,
•Peça alguém que ligue 193/192 para chamar a ambulância informando “vítima atacada por tubarão”,
•Comprima o ponto arterial (artéria braquial ou femoral) do membro atingido, se não parar o sangramento coma s medidas anteriores,
•O uso do torniquete deve ser restrito ao pessoal especializado e com material apropriado para esta finalidade,
•Mantenha o Suporte Básico de Vida (ABC) até a ambulância chegar (só remova ao hospital, caso esteja em local inalcançável a curto prazo ao socorro 193). Se o volume de sangue perdido for grande e ameace a vida, a sua restauração só será iniciada a chegada da ambulância.
•Agasalhe a vítima, tranquilize-a e não permita que faça ingestão de qualquer alimento ou água.
•Todo ferimento por tubarão deve ter atendimento médico.
Notas: Podem ocorrer lesões extensas, múltiplas ou em tronco e/ou abdome, provocando grandes hemorragias, choque por perda deste sangue, promovendo rapidamente a inconsciência e o afogamento secundário.
No hospital
1.Refaça todos os procedimentos descritos anteriormente e não realizados até o momento
2.Limpeza da lesão – A lesão deve ser considerada potencialmente contaminada pela vasta microflora marinha (bactérias) bucal do tubarão. Os gêneros mais patogênicos são: Vibrio, Erysipelothrix, Pseudomonas, Clostridium, Staphylococcus, Micrococcus, Paracolobactrum e Citrobacter
a.Após contensão da hemorragia e estabilização da pressão e assegurado a boa condição clínica do paciente, a ferida deve ser abundantemente lavada.
b.No hospital: desbridamento cirúrgico, uso de antibióticos, e profilaxia antitetânica,
c.A ferida não deve ser totalmente fechada e a utilização de drenos é recomendada,
d.Enxertos posteriores podem ser necessários dependendo da extensão das lesões,
e.Sempre que possível, deve-se documentar e fotografar as lesões